sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Análise: Call of Duty: Advanced Warfare

Finalmente pronta para a nova geração de consoles:

Com Call of Duty: Advanced Warfare, o estúdio Sledgehammer Games tem uma tarefa um tanto ingrata a cumprir. Não somente esse é o primeiro capítulo da série feito inteiramente pela empresa (que já contribui com a franquia desde Modern Warfare 3), como ele tem o objetivo de acabar com a má impressão deixada por Ghosts, um título que parecia prenunciar o “declínio” da série de tiro.
Diante desse cenário um tanto intimidador, o estúdio felizmente conseguiu surpreender e traz uma experiência que, se é inegavelmente um novo Call of Duty, apresenta elementos suficientes para não parecer simplesmente “mais do mesmo”. Para atingir esse objetivo, a desenvolvedora apostou em uma mistura entre mecânicas conhecidas e ideias novas que exploram um pouco o campo da ficção científica, mesmo tendo como base a realidade.
O game tem como cenário o distante ano de 2054, no qual a tecnologia evoluiu ao ponto de termos não soldados, mas “super-humanos” participando de operações militares. Nesse contexto, a megacorporação Atlas surge como um nome de destaque, vendendo seu poderio de ataque e infraestrutura aos países que conseguirem pagar mais por isso.

Futuro utópico

Embora tenha deixado de ser o ponto principal dos games da série Call of Duty há tempos, a campanha de Advanced Warfare surpreende por sua consistência. Mesmo que siga muitos dos preceitos estabelecidos anteriormente pela série (você ainda vai se sentir em meio a um filme de Michael Bay, repleto de explosões e cenas de ação bombásticas), a trama possui novidades suficientes para parecer algo fresco.
A decisão que mais beneficia a narrativa do jogo é o fato de ela se focar em um único personagem: John Mitchell — que é interpretado por e tem as feições de Troy Baker (que deu vida a figuras como Joel, de The Last of Us, e Booker DeWitt, de BioShock Infinite). Sem as mudanças de ponto de vista dos títulos anteriores, fica mais fácil acompanhar os acontecimentos e criar uma empatia com o protagonista.
Após uma missão em solo sul-coreano com desfecho trágico (com direito à perda de seu braço e de seu melhor amigo), Mitchell é recrutado pela Atlas, que concede a ele um novo membro com características mecânicas e diversos “brinquedos” militares de última geração. É a partir desse momento que ele e o jogador se familiarizam com Jonathan Irons, o poderoso e ambicioso CEO da companhia.
Depois disso, a trama segue um caminho familiar a qualquer pessoa que já tenha se aventurado por um capítulo da série Call of Duty — o que não é necessariamente algo ruim. Mesmo que muitas das reviravoltas sejam previsíveis — especialmente se você acompanhou os trailers que precederam o lançamento do título —, a trama se mantém envolvente o suficiente para justificar as 6 horas necessárias para completá-la (período que pode se estender dependendo da dificuldade escolhida). A Sledegehammer construiu um título com um bom ritmo, que apresenta elementos novos em ritmo constante de forma a impedir que o jogador sinta que só está repetindo as mesmas ações do começo ao fim.
Infelizmente, isso traz como contraponto o fato de que várias ferramentas criadas pelo estúdio parecem ser mal aproveitadas. Muitas das habilidades mais interessantes do exoesqueleto de Mitchell surgem de forma restrita, e a impossibilidade de escolher quais delas levar em cada capítulo acaba reduzindo um pouco a variedade de opções disponíveis.
Isso não significa que o título não tenha sua dose de personalização: entre uma fase e outra, você pode usar pontos de experiência para melhorar as características do personagem — entre os exemplos possíveis está aumentar sua quantidade de vida ou acelerar o tempo de recarga de armas. O número de pontos disponíveis para essa tarefa vai depender de seu desempenho em diversas áreas, que incluem desde simplesmente matar inimigos até fazer isso com tiros na cabeça ou usando algum tipo de explosivo.
Mesmo seguindo o velho esquema “atire, se abaixe e repita”, a campanha principal de Advanced Warfare funciona muito bem. Um destaque nesse sentido fica por conta do nível de dificuldade do título, que se mantém equilibrado e evita muitas das mortes “injustas” vistas em capítulos anteriores, optando por checkpoints inteligentes que nunca deixam o jogador à mercê de NPCs difíceis de localizar ou objetivos mal explicados.

Uma caixa cheia de brinquedos novos

A principal novidade de Advanced Warfare, responsável por diferenciar o game do rumo seguido por seus antecessores, é a adição do exoesqueleto usado tanto na campanha principal quanto no modo multiplayer. Esse equipamento permitiu à Sledgehammer “quebrar” as regras da realidade e adicionar alguns elementos que aumentam a diversão e a variedade presentes no jogo.
O dispositivo possibilita ao estúdio romper algumas das características impostas pela física, o que se traduz na possibilidade de usar pulos duplos ou um pequeno impulso para fazer seu personagem se deslocar rapidamente para os lados. Na prática, isso significa um game que aposta mais em cenários verticais, o que muda bastante a maneira como você explora seus objetivos.
Embora isso apareça de maneira limitada na campanha principal (que segue a tendência de restringir a exploração de seus ambientes de forma a criar uma experiência mais direcionada), no multiplayer a história é bem diferente. Aliadas a um design de fases muito bem feito, as novas ferramentas de Sledgehammer criam uma experiência de jogo bastante distinta — mas que ainda assim é, inegavelmente, um Call of Duty.
Se em momento inicial comparações com Titanfall são compreensíveis, basta gastar algum tempo com o jogo para perceber que ele tem uma proposta bastante diferente. Entre os fatores que contribuem para isso está o tamanho limitado dos mapas — mesmo que não exatamente pequenos, os cenários garantem que você dificilmente vai passar muito tempo sem ter que lidar com algum adversário.
O contexto mais futurista adotado pelo game também se traduz em algumas novas opções de equipamento durante o modo multiplayer. Além de usar armas baseadas em lasers, o jogador pode optar por dispositivos como um exoesqueleto mais poderoso como recompensa para seus killstreaks — ou por caixas com novos equipamentos, que são enviadas a determinados pontos do cenário.

Personalização avançada

Advanced Warfare adota o sistema conhecido como “Pick 13”, uma evolução do conceito “Pick 10” que estreou em Black Ops 2. A partir dele, você está livre para configurar livremente seu personagem — contanto que ele respeite o limite de 13 pontos imposto pelo jogo. Como cada habilidade possui requisitos diferentes, cabe ao jogador “fazer as contas” para determinar qual combinação funciona melhor para ele.
Isso significa que, na prática, é possível criar um personagem super-rápido, que usa somente pistolas, ou um verdadeiro “arsenal ambulante” que, apesar de carregar uma escopeta e uma metralhadora, não pode usar habilidades de killstreaks. O sistema adotado pela Sledgehammer se mostra bastante versátil e estimula a realização de experimentos, o que traz como consequência um modo multiplayer mais divertido.
As opções de personalização também se mostram presentes no personagem que você controla durante as partidas multiplayer. Além de poder optar pelo gênero de seu soldado, o jogador tem à sua disposição uma grande variedade de itens, que incluem capacetes, roupas de baixo e até mesmo exoesqueletos com cores e detalhes únicos.
O número de opções disponíveis se expande aos poucos conforme você ganha caixas com equipamentos aleatórios — ou os compra diretamente na loja oficial da Activision. Mesmo que as opções disponíveis tenham caráter meramente estético, coletá-las acaba se mostrando estimulante, nem que seja somente pelo direito de poder falar que seu personagem não é igual a nenhum outro.
Vale notar que o sistema não é isento de algumas pequenas complicações. Como você está restrito a carregar no máximo 80 itens em seu inventário, vai ser preciso se livrar de alguns deles caso deseje adicionar novas opções à sua coleção. Embora isso seja compensado de alguma forma — tudo o que é descartado rende pontos de experiência —, não parece fazer muito sentido apostar em uma restrição desse tipo.

Multiplayer com fôlego renovado

Todos os elementos listados acima contribuem para tornar o multiplayer do game — que muitos consideram como a “alma” da série Call of Duty — uma experiência ainda mais recompensadora. A adoção de novos sistemas de exploração vertical faz com que não haja mais pontos “seguros” em um mapa, o que contribui para tornar a ação ainda mais dinâmica e balanceada.
O jogo não apresenta mais os famosos “corredores da morte”, visto que você sempre tem várias alternativas para chegar até praticamente qualquer ponto do cenário. Caso um inimigo esteja protegendo uma escadaria, por exemplo, provavelmente há uma janela por perto pela qual você pode pular e surpreendê-lo por trás — ou um caminho alternativo que vai chegar até aquele lugar por um ângulo diferente.
O fato de que dificilmente os cenários possuem qualquer espécie de área totalmente protegida contribui para acabar com o domínio dos famosos “campers”. Mesmo que o fato não deva agradar muito a quem usa rifles de longa distância — que perderam grande parte de sua efetividade —, no geral isso contribui para partidas mais equilibradas e rápidas.
Embora a estrela do multiplayer ainda continue sendo o modo Team Deatmatch e suas variações, a Sledgehammer consegue realizar algumas adições interessantes à fórmula. Opções como “Domination”, “Hardpoint” e “Capture the Flag” continuam funcionando bem e ganham mais dinâmica graças a cenários com condições variáveis — como uma onda tornar grande parte da área inexplorável — e às novas mecânicas de movimentação.
A maior novidade fica por conta de “Uplink”, espécie de mistura entre futebol e basquete na qual os dois times lutam pelo controle de um satélite que deve ser jogado no “gol” adversário. Como o jogador que está em posse do instrumento só pode realizar ataques físicos, sua sobrevivência depende de um bom trabalho de equipe, o que torna o modo especialmente divertido de se jogar com amigos.
Outra opção inédita é o modo “Exo Survival”, que força quatro jogadores a cooperarem para superar uma série de ondas de inimigos controlados pela inteligência artificial. A cada rodada, você tem a chance de mudar a classe de seu personagem (cada uma especializada em um tipo de armamento e com características diferentes de energia e movimentação) e investir em novos equipamentos.
Não há qualquer limite de tempo para o modo, o que significa que você pode passar horas lutando contra a inteligência artificial sem nunca ser vencido por ela. Infelizmente, isso logo entrega a falta de variação; embora traga alguns objetivos variados — como desarmar bombas espalhadas pelo cenário, por exemplo —, ele acaba sendo deixado de lado em pouco tempo por trazer poucos estímulos que justifiquem um retorno constante.
Durante nosso período de testes, os servidores de Advanced Warfare se mostraram estáveis e sempre cheios de jogadores. O único problema nesse sentido é o fato de que algumas das opções menos populares não contavam com muito público, situação que pode ser atribuída mais à comunidade de jogadores focada em modos clássicos do que a uma possível incompetência da Sledgehammer.

Dublagem poderia ser mais cuidadosa

Mesmo após a dublagem em português ter se tornado um padrão dos grandes lançamentos da indústria, ainda existem trabalhos que decepcionam um pouco nesse sentido. Infelizmente, Advanced Warfare se encaixa nessa categoria pela falta de um processo de direção cuidadoso.
A seleção de vozes é competente em um âmbito geral (mesmo que seja estranho ver Kevin Spacey com um tom tão distinto do ator real), embora algumas não agradem — como a do protagonista, que está longe de passar a mesma emoção transmitida por Troy Baker.
O aspecto que mais incomoda, no entanto, é a maneira como certos diálogos são proferidos. Fruto de uma clara falta de orientação, algumas cenas mostram personagens que falam em entonações muito distintas entre si, o que contribui para criar algumas situações estranhas — durante uma conversa em um ambiente calmo, não é incomum ver uma pessoa falando calmamente enquanto outra grita como se estivesse em meio a um conflito (situação que inexiste na dublagem original).
A falta de direção também contribui para aumentar o problema de falta de sincronia já presente no trabalho em inglês. Infelizmente, momentos em que a fala de um personagem corta a de outro de forma estranha são comuns, assim como cenas em que um dos protagonistas continua movendo a boca sem que nenhum som saia dela.

Vale a pena?

O novo ciclo de desenvolvimento de três anos concedido pela Activision torna Call of Duty: Advanced Warfare um dos melhores capítulos da série em anos recentes. Embora esteja longe de repetir a revolução vista na trilogia Modern Warfare, o game possui elementos frescos em quantidade suficiente para dar um novo fôlego a uma franquia que muitos consideravam decadente após o fraco Ghosts.
O uso de um cenário menos realista permitiu que a Sledgehammer criasse um jogo mais divertido e variado, que se aproxima muito mais de um filme de aventura com elementos de ficção científica do que uma nova tentativa de recriar “Falcão Negro em Perigo”. Com isso, o game não somente pode explorar elementos que fogem da realidade, como constrói uma trama que foge um pouco de alguns clichês vistos no passado.
Talvez o maior problema de Advanced Warfare seja o fato de que ele é uma sequência de uma franquia conhecida por sua fórmula bastante característica. Com isso, é difícil não sentir que em alguns quesitos o estúdio teve que se restringir sua criatividade, visto que não era possível deixar de lado certos elementos já conhecidos pelos fãs.
No entanto, esses pequenos deslizes não atrapalham em nada o ótimo trabalho desempenhado pela Sledgehammer. O título pode ser considerado o verdadeiro ponto de partida da série na nova geração de consoles e apaga o gosto amargo deixado pelo seu antecessor. Apresentando uma mistura boa entre elementos familiares e novidades, o título prova que ainda vai demorar um bom tempo até que Call of Duty deixe de ser um nome relevante para a indústria.
Call of Duty: Advanced Warfare foi cedido pela Activision para a realização desta análise

90PC
Excelente
     Sledgehammer Games fez bem sua lição de casa e entrega o melhor Call of Duty desde o fim da trilogia Modern Warfare
outras plataformas
  • 90
    PS4
  • 90
    XBOX ONE
pontos positivos
  • Protagonista único resulta em uma trama mais coerente
  • Elementos verticais dão um novo fôlego ao modo multiplayer
  • Cenário futurista resulta em equipamentos mais interessantes e variados
  • Multiplayer com cenários bem construídos
pontos negativos
  • Dublagem em português é prejudicada pela falta de uma direção competente
  • Algumas mecânicas novas aparecem de forma muito restrita na campanha
  • Nem todos os modos multiplayer possuem a variedade esperada

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