Durante anos, sim anos, a Microsoft possuiu um trono que poucas editoras ousaram desafiar. Os simuladores de voo tiveram durante esse tempo um rei e chamava-se Microsoft Flight Simulator. Desde a versão 2000 que o FS dominou os céus sem qualquer oponente e, de facto, com justa causa. Não havia nada melhor que o FS2000, FS2002, FS2004 e mesmo o FSX. Mas entretanto, uma pequena empresa chamada Laminar Research pegou no que de mais útil um simulador tem e fez disso a sua imagem de marca: Simular o Voo o mais realista possível.
Onde o FS2004 e o FSX falharam, no realismo, Xplane 8 veio, viu e venceu. Tomou o coração de pilotos reais e estudantes de aviação mas também entusiastas e fãs. Tornou-se um culto, bem semelhante à velha guerra entre PC e Mac. Na resposta ao desafio, a Microsoft lançou um fraco FSX, o derradeiro da Aces Studios e que resultou na melhor evolução possível de um motor gráfico gasto e sem suporte. Mas a Laminar Research lançou um robusto e espectacular Xplane 9 e provou que estava a passos largos a caminho da hegemonia quando o seu simulador passou a ser Certificado pela FAA, a autoridade norte-americana para a aeronáutica, para uso em treino e ensino. Algo que jamais o FSX poderia fazer. Só que do lado do FSX havia a enorme comunidade e as muitas empresas que criavam cenários e aeronaves como expansões e nesse campo o Xplane continuava algo deserto.
Este ano, em meados de Fevereiro, sairá o Xplane 10. Continuará a ter como rumo o realismo. Mas a grande diferença é que já atingiu um patamar invejável de fãs e utilizadores em todo o mundo. E outra grande diferença é que a gigante mundial de addons para simulação Aerosoft adquiriu os direitos sobre o Xplane 10 e passará a representá-lo. Isto são excelentes notícias para todos. Não só haverá mais e melhor Xplane, como ainda teremos addons para expandir a experiência deste magnífico simulador. Sobretudo tendo em conta que a Microsoft pegou no legado do Flight Simulator, desconjuntou-o e vai lançar um jogo e não um simulador que nem sequer pretende ser a continuação de FSX.
Mas vamos lá descolar, que o dia hoje está excelente para darmos umas piruetas…
Xplane 10 vs MS Flight Simulator
Todos os aficionados dos simuladores já fizeram esta pergunta. Afinal qual é a verdadeira diferença ou semelhança entre o Xplane e o MS Flight Simulator? Na verdade são mais as diferenças que as semelhanças tendo em conta que ambos são simuladores multidisciplinares (de várias aeronaves) em que todo o mundo e respectivos aeródromos estão disponíveis.
Até esta versão, porém, o MSFS gozava de uma hegemonia imbatível com uma série de empresas a construírem add-ons e outros extras para expandir o motor básico central. Tudo muda agora com Xplane 10. Como já dissemos, não só a gigante Aerosoft está agora por detrás deste título, como todas as grandes cabeças pensantes do mercado se estão a virar para este novo simulador.
Mas a diferença que salta à vista entre os dois simuladores está na filosofia dos mesmos. O MSFS é um simulador relativamente básico em que os modelos de voo são algo irrelevantes. Para termos uma ideia do que o MSFS simula em termos de aerodinâmica, basta olharmos para as estruturas dos modelos construídos para o simulador. Não há um modelo de voo instituído, havendo exemplos de quem já tenha desenhado um simples paralelepípedo, escrito no seu código que possuía um motor x e poder de sustentação y e o objecto voar tão bem como um Boeing. Irónico. Só que essa façanha no Xplane 10 torna-se impossível. O modelo de aerodinâmica deste simulador é tão preciso que diferentes dimensões de fuselagem produzem diferentes efeitos de arrasto e é mesmo preciso alguma destreza para dominar algumas aeronaves mais pesadas ou, pelo contrário, mais ágeis. E experimentem voar além da Atmosfera… É que Xplane simula operações orbitais e para isso possui o Space Shuttle inteiramente simulado, inclusive o seu famoso modelo de voo de “Tijolo com Asas”. Também realista é o voo supersónico (com efeitos aerodinâmicos realistas), o já mencionado voo orbital com efeitos de gravidade e reentrada, verdadeira operação anfíbia com missões de combate a incêndios usando aviões Canadair.
E para comprovar a robustez do código de aerodinâmica deste simulador, a Laminar Research inclui no pacote um programa para desenhar Asas e mesmo Aeronaves. Embora seja algo complicado de dominar, com algumas horas acabamos por entender a lógica de modelação e criamos um modelo básico. Mas irão precisar de muitas horas de testes para conseguir que o aparelho voe decentemente.
Toda a programação de sistemas é soberba, desde um verdadeiro sistema Fly-By-Wire (sistema usado em aviões militares modernos e mais recentemente nos Airbus 320 e novos Boeing 777 e 787 em que os computadores controlam as superfícies de controlo directamente protegendo-o a nível de efectividade e performance), sistema FADEC (controlo electrónico dos motores), entre outros sistemas e mesmo falhas genéricas para testar emergências.
Depois há toda uma panóplia de efeitos e físicas realistas. As pistas, ao contrário do MSFS onde são todas planas, tem solavancos e mesmo ângulos de subida ou descida (slope). O avião é afectado por toda a sorte de turbulências, inclusive quando passa atrás de outro avião (wake turbulence). É o único simulador actualmente a simular efeitos meteorológicos como Windshear (quando uma nuvem de tempestade produz ventos súbitos que em rajada podem provocar desvios ou mesmo acidentes) ou formação de gelo nas asas. E há outros efeitos com ondas tridimensionais em Rios e Mares, aves que podem colidir com o aparelho e muitos outros que afectam a operação do avião ou simplesmente adicionam espectáculo.
Outra vantagem de Xplane 10 é o facto de ser um produto em constante actualização e upgrade. Tanto a Laminar Research como a Aerosoft estão a lançar patches e updates com regularidade para não só corrigir erros que possam surgir como para acrescentar estrutura e novidades ao simulador. O último MSFS teve dois service packs e parou no tempo, tendo muitas das correcções sido feitas pela comunidade e com resultados mistos.
Por último, há que mencionar que a maior diferença de todas em relação, sobretudo ao FSX, é o facto de Xplane 10, apesar de possuir um motor gráfico robusto, não ser tão exigente em termos de hardware. Enquanto que o FSX precisa de uma máquina turbinada, confinada ao ambiente Windows e mesmo assim não produz grandes performances, obrigando os usuários a fazer algumas cedências de cenário ou grafismo para correr decentemente, o Xplane 10 não só corre em plataforma Linux ou OSX como ainda possui optimizações para as placas gráficas modernas para obter rendimentos muito acima da média, sempre, sempre deslumbrante.
As principais novidades de Xplane 10
Já falámos de grandes diferenças para quem só conhecia o MSFS em relação à filosofia Xplane. Mas agora, há que justificar a décima versão deste simulador com um conjunto de novidades que surgem apenas neste capítulo.
Uma novidade que salta a vista no cenário é a nova lógica “Mundo Dinâmico” de geração de edifícios e objectos de cenário. Não mais são posicionadas imagens genéricas para simular a vista de cima como nas versões anteriores e noutros simuladores. Agora o XP10 usa geração realista de polígonos 3D desde a relva à torre de controlo, nada é textura colada, mas tudo modelado tridimensionalmente. Também os aviões de tráfego AI são gerados pontualmente, deixando de haver posicionamentos genéricos e pouco realistas. Cada objecto é único e gerado no momento. Já agora, a criação de tráfego AI é genial, já que cada modelo de voo é alocado a diferentes processadores e não gerados como cenário. Isto significa que o impacto na performance gráfica é mínimo porque tudo é processado no momento e no CPU.
O novo sistema de meteorologia e respectivo grafismo é de cortar a respiração. Estamos a falar de uma total renovação de texturas e dinâmicas que já eram excelentes no Xplane 9 e recebem uma elevadíssima dose de realismo nesta nova versão. Já falámos nas diferenças entre MSFS e Xplane neste campo, mas vale a pena mencionar que agora as nuvens e fenómenos atmosféricos são gerados em graus de detalhe em proximidade. Ou seja, mediante a distância, vão degradando de resolução para não pesar demais. Isto significa que o céu fica inteiramente coberto com nuvens se o tempo assim o indicar. Assim mesmo máquinas com fraco desempenho continuarão a usufruir do Xplane 10 com performance aceitável, mesmo com céu nublado cerrado.
O ATC (controlo de tráfego aéreo) foi revisto e redesenhado para ser menos sintético e mais próximo da realidade com procedimentos realistas. Os aviões AI seguem procedimentos que podemos acompanhar desde que estejamos na frequência certa.
Os novos sistemas dos aviões e modelos de voo adicionados incluem: Nova modelação de motores a jacto, novo sistema de compensadores (trim), nova lógica de Start-up, novo redesenhar de lógica de sistemas de hidráulica, eléctricos entre outros. Todas estas características e novidades estão agora disponíveis no já mencionado programa de desenho de aeronaves, o Plane-Maker, que foi redesenhado com um novo interface herdado do próprio simulador.
É de notar que a vasta maioria dos objectos são cada vez mais tridimensionais e não texturas coladas, mesmo em resoluções e definições de detalhe menos complexas.
O Futuro de Xplane 10
São para já três os cenários extras produzidos pela Aerosoft para o Xplane 10. Mas mais vêem a caminho. Diz-nos a empresa alemã que é a sua intenção gradualmente transitar os seus produtos que actualmente só existem para o FSX ou FS2004 para o Xplane 10. A grande vantagem deste novo simulador é a capacidade que terá de produzir grafismo mais complexo e mais moderno, tirando proveito das novas tecnologias de modelação, iluminação, texturas e efeitos.
Como este simulador pode ser usado a nível profissional mediante a actualização de uma USB key certificada pela FAA (autoridade aeronáutica dos EUA) para treino de pilotos, será de esperar que este simulador esteja sempre acima das expectativas a nível de conteúdos.
Pelo que sabemos a Laminar Research já está a colmatar a lacuna da ausência do voo online com a inserção de novos módulos externos para usar redes como a VATSIM ou IVAO (redes mundiais de entusiastas que simulam voo controlado entre pilotos e controlo de tráfego aéreo via LAN ou Online). Para já, existe a intenção de incorporar software como o FSUIPC (módulo DLL que faz o interface entre o MSFS e software ou hardware de terceiros) para ligar módulos que anteriormente só funcionariam no FS2004 ou FSX.
Aeronaves estão na calha, tendo já a empresa Carenado lançado diversos aviões ligeiros com a qualidade conhecida deste fabricante. A Aerosoft está a distribuir um excelente CRJ200 da JRolloncompleto com FMC (Flight Management Computer) e num futuro próximo um ATR 72 da McPhattambém completo. Mas mais fabricantes se estão a virar para o Xplane 10, sobretudo com a facilidade de modelação e programação do motor base do Xplane 10 que permite todo um novo mundo de animações e lógicas.
Mas o que nos deixa muito contentes em relação ao futuro do Xplane 10 é o facto de tudo, mesmo tudo, menus, aeronaves, cenários, lógicas e sistemas, neste simulador pode ser personalizável através de ferramentas fornecidas e de outras que serão disponibilizadas no futuro. Já dissemos como updates são regulares e como tanto a Laminar Research como a Aerosoft se empenham em melhorar o simulador não só até ao lançamento neste mês como além.
Veredicto
Há simuladores de voo que marcam uma geração e o MSFS foi o rei durante o tempo em que inovou e trouxe a aviação a todos. Só que as políticas de gestão da Microsoft que extinguiu a equipa original (Aces Team) para criar agora um jogo de aviões chamado “Microsoft Flight”, vieram criar um enorme vazio que cabe a Xplane 10 preencher. Não é uma tarefa fácil mas este simulador está no bom caminho. E nem precisa de acrescentar o que o MSFS já tinha, basta que inove e ultrapasse o que já foi feito. E mesmo a poucos dias do seu lançamento, já deslumbra. Senão, confiram as imagens.
Se são entusiastas do voo simulado, curiosos ou mesmo profissionais da área, não podem perder Xplane 10. Sem dúvida o melhor simulador de voo para PC, Mac e Linux jamais concebido.
9óptimo
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