Desde que o primeiro The Sims comprometeu seriamente a vida social de seus jogadores lá pelos idos da virada do milênio, o que se viu foi uma expansão constante protagonizada pela EA.
Inicialmente, para quem já não se satisfazia em seguir para o trabalho e dali para casa, as expansões apareceram como um novo terreno convidativo — particularmente, celebrei quando “uma nova companhia de táxis chegou à cidade”, juntamente com o meu novíssimo Vida Noturna. Posteriormente, The Sims 2 expandiu a fórmula, acrescentando traços pessoais, envelhecimento, uma universidade etc.
Em The Sims 3, por sua vez, os fãs dos ratos de laboratório finalmente ganhavam um universo livre para a exploração — sem loadings, com inúmeros locais para se visitar... Embora nem tudo funcionasse tão bem assim, é verdade.
Bem, e o que dizer sobre The Sims 4? Novamente, como fã, minha primeira impressão foi a de um mundo que havia voltado atrás alguns vários passos. Afinal, foi-se o universo aberto à exploração do terceiro game — e mesmo algumas adições bacanas de The Sims 2 pareciam ausentes.
Mas aí chegou a hora de finalmente ligar o PC e ver como a coisa toda funcionava. A socialização entre os Sims havia voltado para o foco da Electronic Arts, juntamente com novas ferramentas de criação mais intuitivas — tanto para os Sims quanto para suas “baiucas”, vale dizer.
E, bem, não demorou mais do que algumas horas para que eu percebesse: The Sims havia retomado e expandido exatamente os pontos que mais me chamaram atenção há quase 15 anos — mesmo que a relativa “redução” de ambientes e funcionalidades dê a falsa noção de uma experiência reduzida. Honestamente? Não parece ser o caso.
Um ambiente mais orgânico
Com o primeiro The Sims, a EA conseguiu o feito absolutamente vanguardista de transformar o cotidiano em um “jogo” incrivelmente divertido e cheio de possibilidades. Além de simular interações entre seres humanos de carne e ossos — sem guerras intergalácticas, sem apocalipses zumbis —, a desenvolvedora descobriu que, sim, havia muita gente interessada em se mudar de mala e cuia para um ambiente virtual... durante várias horas por dia.
Bem, é justamente esse “feeling” que parece ter sido resgatado e expandido em The Sims 4. Não há os espaços amplos de The Sims 3, mas há locais compartilhados muito mais cheios de vida, sem aquela impressão desértica. Há menos funções e formas bizarras de interação — mas um bate-papo na casa de alguém realmente se parece com a ocasião que tenta simular.
Conversas em grupo
Isso se torna bastante claro nas conversas em grupo, por exemplo. Para quem se lembra, em títulos anteriores era possível conversar apenas com um Sim por vez. Caso fosse necessário dar atenção a outros tantos, digamos, em uma festa, a solução era interromper o diálogo e ativamente buscar outros personagens.
Bem, tente conversar em grupo em The Sims 4. Um dos interlocutores pode estar sentado no balcão de um bar, outro dançando e um terceiro em pé — todos tagarelando alegremente em uma conversa compartilhada, se entreolhando e reagindo às emoções uns dos outros. Além disso, desenvolver atividades dessa forma ainda permite que você supra outras necessidades do seu Sim enquanto conversa... Convenhamos, tal e qual ocorre na vida dita “real”.
“Moodlets”
Os chamados “moodlets” são mais uma prova de que a EA resolveu apostar pesado no aperfeiçoamento das relações entre os Sims. Basicamente, o humor do seu Sim em cada momento pode afetar de forma decisiva mesmo aquelas tarefas mais rotineiras. Além disso, tal e qual ocorre com interações humanas, a falta de jeito, o dito no momento errado, a cantada mal engatada... Tudo isso pode alterar o “mood” do seu avatar.
Durante a minha experiência com o jogo, um dos sujeitos que criei era o típico artista solitário — genial, mas não um cosmopolita nato, por assim dizer. Dessa forma, as cantadas volta e meia batiam na trave e mesmo a presença de outros Sims acabava por deixar o pobre diabo nervoso.
Nesses momentos, o jogo vai indicar diversas saídas possíveis, claramente destacadas na roda de diálogo. No caso do meu Sim pouco sociável, as “piadas autodepreciativas” sempre funcionavam bem — assim como algum tempo completamente sozinho.
Modo de criação mais instintivo
Honestamente, nunca vi muito problema nas tradicionais barras deslizantes dos The Sims anteriores. Entretanto, ao rapidamente colocar barriga, tirar queixo e alargar olhos e mandíbulas com toques rápidos sobre a tela, é fácil perceber que, ao menos em termos de ferramentas, The Sims 4 traz o melhor e mais bem desenvolvido Modo de Criação de Sim da série.
De fato, entre pretender alterar algo e, de fato, mexer em uma medida é simplesmente o tempo de repousar o cursor sobre o nariz, orelhas, culotes, sobrancelhas ou seja lá o que for. Basicamente, o seu Sim virou aqui um boneco de massa de modelar — sem a parte da sujeira e tal.
Menos traços de comportamento
É verdade que há agora menos traços de comportamento. São, de fato, apenas quatro, sendo que um deles é prontamente associado, de forma básica, à personalidade do seu Sim. Entretanto, confesso que sempre tive minhas dúvidas em relação às funções práticas de todos os cinco ou seis traços (no caso de Vida Universitária) que se via em jogos anteriores.
Há aqui os clássicos, “lunático”, “fisiculturista”, “gênio”, “amante de ar livre” e tal. E essas dimensões parecem trabalhar muito bem em conjunto durante o jogo — de maneira que talvez se possa dizer que “menos é mais”.
Pois é, não há piscinas, mas...
Ok, todos somos fãs das piscinas, com certeza um dos métodos mais convidativos para exercitar o próprio sadismo sem precisar arcar com os rigores da lei. Trata-se de uma exclusão um tanto sem sentido, é verdade.
Mas, por outro lado, The Sims 4 traz provavelmente o melhor modo de construção da série. Disposição de objetos, ajuste das fundações, altura das paredes etc. Além disso, para os particularmente preguiçosos, o game traz cômodos prontos — devidamente decorados e mobiliados, bastando apenas encaixar os “caixotes”.
Reduzido, mas incrivelmente leve
Há sempre o ônus e o bônus, como se diz. No caso, a EA fez de The Sims 4 um jogo incrivelmente leve. As telas de carregamento são muito rápidas, deixando até pouco tempo para as tradicionais piadinhas do tipo “contabilizando pirulitos de chocolate”.
O preço a se pagar, entretanto, foi uma redução drástica das áreas disponíveis — o que, pelo menos, é contrabalançado pela possibilidade de poder viajar entre vizinhanças diferentes. Isso, ademais, ainda abre as portas para futuras expansões (bastando para isso incluir novas vizinhanças).
Ah, o celular
Cá entre nós, o celular já deixou de ser apenas “um telefone portátil” há muito tempo. E isso, naturalmente, precisa aparecer em um jogo que pretende “simular” o cotidiano.
Dessa forma, em The Sims 4 o seu smartphone se torna tão onipresente/onipotente quanto a versão física que pode ocupar o seu bolo no momento. Jogos, empregos, mensagens, ligações, serviços, viagens... Está tudo na telinha.
Interações no foco
A audácia da EA em abrir mão de alguns passos ensaiados em The Sims 3 é realmente admirável. Na verdade, a redução dos espaços disponíveis foi o principal motivo para diversos sorrisos amarelos entre os fãs de carteirinha da franquia.
Entretanto, longe de ser equivocada, a decisão de reduzir algumas dimensões fez de The Sims 4 uma evolução tão ou mais natural para a fórmula que, há mais de 15 anos, fez algumas pessoas perderem dias inteiros em frente a seus computadores “Pentium”.
Trata-se, seguramente, das interações mais orgânicas de toda a franquia. Faltam traços? Bem, há conversas em grupo, tão convincentes quanto os limites do bom “Simlish”. Faltam espaços para visitar? Pode ser. Mas as vastas regiões potencialmente desertas do terceiro game foram aqui trocadas por alguns poucos espaços cheios de vida — novamente como um convite à interação, talvez a marca mais durável da série até hoje.
Este jogo foi cedido pela Electronic Arts para a realização desta análise.
- Ambiente mais orgânico
- Melhorias nas interações em grupo
- O melhor modo de construção da série
- Ferramentas intuitivas para criar o seu Sim
- Variações de humor adicionam novas dimensões à jogabilidade
- Animações com mais detalhes
- Mais leve e rápido de carregar
- Não há piscinas
- Vizinhanças consideravelmente reduzidas
- Loadings até para ir ao vizinho
Nenhum comentário:
Postar um comentário